domingo, 14 de agosto de 2011

PROFISSIONALIZAR

Muito interessante o artigo do Jornalista Alon Feuerwerker, colunista politico do Correio Braziliense.


A presidente vai bem no tratamento das acusações contra membros da equipe dela, mas agora está desafiada pelo baguncismo. Que não rima com profissionalismo 


A lógica acaciana informa: tudo vai bem até ir mal. A presidente Dilma Rousseff ia bem nos episódios de acusações contra membros do governo. Tomava providências e projetava imagem de rigor. 

De dureza contra a corrupção. O que se espera de quem vai sentado na cadeira presidencial. 

Dilma vinha atendendo a demanda. E com o destemor de quem não reza pela cartilha alheia. 

O episódio no Ministério do Turismo introduziu elementos perturbadores na relação da presidente com o ambiente político-policial. 

Houve o desconforto pelas implicações políticas. Paciência. A PF não precisa de autorização do Palácio do Planalto para fazer o trabalho dela. 

Foi um primeiro mau jeito. O Planalto não tem prerrogativa legal de exigir saber antes como a PF vai tocar um caso. 

Desde que a força policial aja dentro da lei. E das normas hierarquicamente determinadas. 

Agora, vem esta inacreditável exposição dos investigados, ou pelo menos de alguns deles, politicamente mais apetitosos. 

Fotografados sem camisa, em situação humilhante na cadeia. 

Dirá o senso comum ser bom políticos suspeitos de crimes receberem o mesmo tratamento desrespeitoso dado aos do povo. 

Para que os de cima vejam como é bom para a tosse, sintam na pele. 

Será? 

Melhor seria percorrer a estrada oposta. Garantir a todos os direitos previstos na lei e aplicados apenas para alguns, mais bem posicionados e munidos. 

O arbítrio e a violência, inclusive moral, contra alguém “da alta” não ajuda a estimular o respeito aos direitos humanos dos demais.

Ao contrário. 

Ao institucionalizar-se a ausência de limites, legitima-se alguma perseguição a graúdos, mas junto complica-se para valer a vida dos nem tanto. 

Pois os primeiros costumam ter dinheiro, prestígio e relações para mobilizar na hora do aperto. 

Já o povão só tem mesmo a esperança de ver a lei cumprida. Especialmente os pedaços dela dedicados aos direitos e garantias individuais. 

O arbítrio é sempre para todos. Especialmente para os menos providos de defesas materiais. 

Por isso, é ilógico exultar diante da violência contra quem achamos que “merece”. Isso não promove justiça social. 

Pois amanhã a violência socialmente legitimada pode se voltar contra qualquer um. 

O episódio do Ministério do Turismo apresenta elementos de regressão no profissionalismo que a PF havia alcançado nos últimos anos. 

Quando conteve o espetáculo e se concentrou na produção de resultados capazes de facilitar a condenação. 

A PF é essencial, mas não substitui o Ministério Público nem a Justiça. 

Ainda que, num ambiente percebido como de impunidade, o povão adore a justiça sumária. 

Desde que para os outros, claro. 

O caso vem infelizmente revelando uma dose de baguncismo, que pode dar ainda muita dor de cabeça à presidente da República. 

Que, em vez de se deixar tentar por controlar politicamente o trabalho da PF, talvez devesse lançar o foco sobre o exigido profissionalismo. 

Inclusive para não enfraquecer a própria Polícia Federal. 

Fora de lugar 

As ideias são decisivamente influenciadas pela realidade material. 

Mas é verdade também que isso acontece com atraso. As ideias velhas resistem pela força do hábito, da inércia. 

O governo anterior do PT aceitou uma polarização com a imprensa, ou pelo menos com o pedaço supostamente mais influente dela. 

Luiz Inácio Lula da Silva costurou uma base política para enfrentar a opinião pública. 

Já Dilma, até agora, percorre o caminho oposto. Apoia-se na opinião pública para enfrentar a própria base. 

Pois precisa tomar o comando do governo que ela deseja comandar. Um governo que sua excelência recebeu descentralizado além da conta. 

Nessa inversão, o discurso de viés governista contra “a mídia” soa como ideia fora de lugar e de hora. 

Os tempos são (bem) outros.



Nenhum comentário: